segunda-feira, 4 de abril de 2011

Limites da descrição na pesquisa científica

Quem analisa projetos, orienta alunos e participa de congressos percebe que cada vez mais falta aos jovens e, em muitos casos, aos pesquisadores mais experimentados, o pleno domínio do processo de produção do conhecimento científico. Uma boa parte destes trabalhos permanece na simples descrição dos objetos estudados, sem chegar ao nível conceitual e menos ainda à proposição de teorias.

Entre os vários tipos de conhecimento existentes: o do senso comum, o artístico, o religioso, o jornalístico, o filosófico e o científico, o que caracteriza este último é a utilização dos conceitos para a definição e a descrição das características dos objetos sistemática e metodicamente investigados.  Se, por um lado, trabalha na esfera dos conceitos, por outro, o conhecimento filosófico é mais antigo e apresenta diferenças quando comparado com as práticas científicas constituídas na Modernidade, principalmente no caso das exigências de experimentação sistemática e no desenvolvimento de inovações, permanecendo no âmbito da argumentação lógica e da análise crítica das proposições e teorias.

Na pesquisa científica a descrição representa um meio para um fim que se atinge com a produção de categorias de análise e na elaboração dos conceitos. A sistematização dos conceitos leva a proposição de teorias que, quando diversificadas e consolidadas, a partir da definição de um objeto e de métodos e procedimentos, dão origem às disciplinas. O conjunto articulado de disciplinas constitui uma área ou uma grande área de conhecimento. A produção de conhecimento científico pressupõe o uso de métodos e procedimentos e uma série de etapas que são variáveis de caso a caso e de uma disciplina para a outra.

Nestas diversas etapas a descrição cumpre com diferentes funções. Nas fases preliminares de análise de possíveis objetos para a amostra do estudo possibilita definir particularidades, regularidades e rupturas; durante a pesquisa permite identificar procedimentos, ambientes, ações e reações, comportamentos, processos, produtos, formatos, protótipos, linguagens, técnicas, tecnologias, etc... e, finalmente, nos relatórios e nos trabalhos acadêmicos (artigos, monografias, dissertações e teses), uma vez sistematizada através de abstrações teóricas, contribui para dar forma às categorias de análise, aos conceitos e a ilustração de argumentos para a formulação de teorias. 

Enquanto procedimento que se incorpora as diferentes etapas de produção do conhecimento científico, a descrição - por si mesma  - não pode ser vista como um fim porque opera no nível pré-conceitual e pré-teorético. Sem a prévia abstração que possibilita identificar traços invariáveis existentes em determinado objeto, produto ou processo, a simples descrição, por mais completa que seja, está confinada aos limites exteriores do caso específico, ficando aquém das categorias de análise e dos conceitos, que são o ponto de partida para o que, em termos acadêmicos,  se convencionou definir como conhecimento científico. 

Com um abraço,

Elias.

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