quinta-feira, 31 de março de 2011

Orientações básicas para um bom resumo

Certa vez, quando era estudante de ensino médio, meu professor fez uma pergunta em classe: por onde se começa a ler um livro? A maioria respondeu que pelo título ou pela introdução. O professor recomendou que antes deveríamos consultar a bibliografia. “Se não revisou a literatura de referência, em geral, não vale o esforço da leitura”, alertou. Quem consulta trabalhos acadêmicos, antes de mais nada, avalia os resumos e, a depender da estrutura, da qualidade do estilo e das informações contidas, não vai muito além na leitura do artigo, monografia, dissertação ou tese. Se quiser aumentar a probabilidade de difusão e aceitação de suas obras e facilitar a vida de pesquisadores, bibliotecários e avaliadores é recomendável ter alguns cuidados formais e estilísticos na elaboração dos resumos.

A estrutura padrão mínima de um resumo pressupõe cinco elementos básicos:  1) título; 2)definição do tema ou do objeto da pesquisa; 2) objetivos; 3) metodologia em caso de pesquisa empírica ou referencial teórico utilizado; 4) resultados da pesquisa e 5) palavras-chave. Em caso de resumos de projetos dispensa-se o quarto ponto porque, obviamente, não se pode antecipar as descobertas de uma pesquisa que sequer foi desenvolvida. Destes cinco elementos, em geral, na área de Jornalismo os mais adotados são a definição do tema ou objeto e os objetivos. Uma boa parte dos colegas ainda esquece da necessidade de incluir a metodologia e/ou referencial teórico empregados e ainda são raros os casos de resumos com a estrutura formal completa, com a apresentação dos resultados alcançados.

Um resumo começa por um bom título. O título deve apresentar e delimitar o objeto de estudo e os objetivos ou resultados da pesquisa. Nada impede que para atrair a atenção o título seja mais conotado, desde que se precise o objeto de estudo no subtítulo. Nunca deixe de indicar o período, a instituição ou lugar de realização do estudo.  É aconselhável uma linguagem objetiva e clara com o uso de estilo acadêmico, evitando gírias ou termos coloquiais e ambíguos. Deve-se ter o máximo de cautela para utilizar os conceitos com exatidão, reduzindo os riscos de equívocos de interpretação. Como nem todos os conceitos são amplamente conhecidos, indicar sempre as referências para possibilitar uma compreensão plena do conteúdo do trabalho.

Além dos cuidados estilísticos e da adoção de uma estrutura padrão mínima um bom resumo necessita ser redigido na norma culta da língua, sem erros sintáticos ou de concordância, obedecendo a uma argumentação lógica.  No resumo a precisão e a concisão são dois aspectos imprescindíveis e complementares. A síntese do que se pesquisa, com que objetivos, com que metodologia ou referencial teórico e dos principais resultados não pode levar a um texto vago ou impreciso que impeça que este elemento estrutural básico em qualquer trabalho ou projeto acadêmico cumpra com a sua função. Um resumo tem em média 10 a 15 linhas e vem acompanhado de três a cinco palavras-chave diretamente relacionadas com o conteúdo. Em casos de resumos menores somente aumenta a exigência de poder de concisão do pesquisador. 

Com um abraço,

 Elias


quinta-feira, 24 de março de 2011

Hipótese funciona como guia de orientação

As hipóteses são essenciais para orientar os rumos e o grau de controle de qualquer pesquisa. Guardadas as particularidades, um pesquisador que desenvolve um projeto sem hipóteses não é muito diferente de um marinheiro que navega sem instrumentos de orientação. Ambos estão condenados ao acaso das circunstâncias.
Como materializa uma proposta de trabalho que pressupõe racionalidade, um bom projeto de jeito nenhum deveria abrir mão de apresentar ao menos uma hipótese, que testada ou discutida contribua para o aumento do conhecimento acumulado. No modelo padrão sugerido pelos manuais de pesquisa, as hipóteses têm a forma de uma pergunta ou de uma afirmação em que se sintetiza o conhecimento provisório existente sobre um determinado objeto.
Ocorre que, mais importante que seguir a receita dos manuais, é compreender a função das hipóteses em um projeto e perceber que as perguntas ou as afirmações provisórias são somente duas possibilidades entre outras de sistematizar o conhecimento alcançado e de estruturar de modo lógico o roteiro que servirá de guia para o pesquisador. Nada impede que a hipótese seja apresentada como um texto bem fundamentado de uma página ou duas em vez de uma simples pergunta ou afirmação de uma a duas linhas.
Em trabalhos de graduação ou mestrado é mesmo mais recomendável que no lugar de várias hipóteses sintéticas, o que dificultaria a comprovação ou discussão mais aprofundada em uma monografia com em média três capítulos, seja elaborada apenas uma hipótese bem construída, com base em uma competente revisão da bibliografia de referência e em um bom estudo preliminar exploratório.
Desconfie de quem recomenda que as hipóteses são dispensáveis em caso de trabalhos de conclusão de graduação ou em dissertações de mestrado, aparecendo como uma exigência protocolar apenas em teses de doutorado. Em termos científicos o que diferencia uma pesquisa de um aluno de graduação de um de doutorado não é nem o rigor nem o procedimento formal como a necessidade ou não de incluir hipóteses, mas sim o grau de complexidade do problema, das matrizes teóricas e metodológicas, das próprias hipóteses testadas ou discutidas e, óbvio, dos resultados obtidos.
Em vez de estimular uma perversa divisão social do trabalho acadêmico em que a formulação de hipóteses cabe somente a quem está no topo da pirâmide, deveríamos compreender que sem uma formação de base integral nunca se conseguirá constituir uma verdadeira comunidade científica. Nos centros de pesquisa preocupados com a qualificação contínua dos seus profissionais e a democratização do conhecimento, os membros são diferenciados não pelo acesso aos procedimentos ou aos objetos de estudo, mas pelo tipo de relação que cada um mantém entre si (orientador/orientando; sênior/em formação) e pelas funções que desempenha nestas instituições (pesquisador-chefe/pesquisador/assistente de pesquisa).

Com um abraço,

Elias.

terça-feira, 22 de março de 2011

A fixação das metas depende dos objetivos

Sem objetivos claros não se consegue chegar a nenhum lugar. Todo projeto de pesquisa pressupõe a definição de objetivos gerais e específicos capazes de orientar as atividades desenvolvidas com a finalidade de atingir as metas previstas. Entre as muitas possíveis destaco cinco funções exercidas pelos objetivos em um projeto: 1) canalizar os esforços da equipe numa mesma direção; 2) evitar a dispersão dos recursos na busca do conhecimento,  3) especificar os aspectos do objeto de estudo que têm mais interesse para os pesquisadores, 4)possibilitar a criação de hipóteses mais concretas que serão postas à prova  ou discutidas e 5) definir com mais precisão a matriz metodológica e os procedimentos adotados.
Na divisão de propósitos cabe aos objetivos gerais uma demarcação do tipo de ações desenvolvidas do ponto de vista do conhecimento mais amplo do objeto de estudos, enquanto que os objetivos específicos têm por função descrever as atividades que serão realizadas pelos pesquisadores nas diversas etapas da investigação. Se com os objetivos gerais se determina os limites em que se circunscreve a área de atuação do pesquisador, reduzindo a chance de fracasso ou desperdício dos recursos existentes, com os objetivos específicos se espera  que  o pesquisador tenha condições de minimizar os riscos de empreender esforços dispersos, sem  um finalidade mais restrita e exeqüível previamente estabelecida.
Como estão relacionados com as ações empreendidas os objetivos são delimitados por atividades muito concretas como analisar, verificar, compreender, classificar, conceituar, definir, caracterizar, catalogar, entre muitas outras, variando de caso para caso. Antes de definir os objetivos específicos tampouco podemos elaborar as hipóteses de trabalho que possibilitarão atingir as metas traçadas. As hipóteses são a materialização provisória do conhecimento que deveremos testar para chegarmos aos objetivos enquanto que as metas são a tradução dos objetivos na forma de resultados mensuráveis. Se a definição do tema, construção conceitual e a delimitação do objeto são passos preliminares para redação dos objetivos, a matriz metodológica, a aplicação dos procedimentos, o fechamento do cronograma, o orçamento e a equipe responsável são instâncias de mediação para que se possa lograr os objetivos com sucesso.

Com um abraço,

Elias.

sábado, 19 de março de 2011

Nem todo projeto de pesquisa se justifica

Não tenha a menor dúvida: nem todo projeto de pesquisa consegue apresentar justificativas para se sustentar e garantir a aprovação dos pareceristas e agências de fomento. Escolher um bom tema, que agrade ao pesquisador e atenda às demandas científicas e sociais, empreender uma revisão criteriosa da bibliografia de referência, definir conceitualmente e delimitar o objeto de estudo são passos importantes, mas insuficientes para elaborar um bom projeto. Sem uma justificativa que convença aos avaliadores dificilmente um projeto consegue aprovação. Nesta postagem vou indicar alguns aspectos que considero essenciais para defender uma proposta de pesquisa submetida à avaliação pelos pares. Todo bom projeto precisa passar com méritos por 5 regras básicas:
Regra 1 – Necessita apresentar uma proposta que seja relevante do ponto de vista científico, que contribua para comprovar, refutar, complementar lacunas ou, o que é mais raro, desbravar novas fronteiras no conhecimento. Como será julgado por pares especializados na questão que fique bem claro que superar a primeira barreira não é tarefa fácil. Se cumpriu com o dever de casa nas etapas de escolha de área para atuação, na definição do tema e na delimitação do objeto, meio caminho está andado. Tudo vai depender então da competência do pesquisador para utilizar estes aspectos como argumentos a favor na árdua tarefa de convencer seus avaliadores.
Regra 2 - Deve propor um projeto compatível com a política científica e tecnológica do país e das instituições financiadoras. Pouco recomendável é uma proposta que até pode ser muito relevante do ponto de vista do pesquisador ou mesmo de uma determinada organização se entra em contradição ou pior ainda está fora das prioridades para o fomento.  Jamais redigir uma justificativa sem consultar as normas do edital das agências para verificar em que medida o projeto pode ou não concorrer com chances de aprovação. Em caso de que a aderência seja somente parcial, atentar para o cuidado de apresentar as devidas alegações para que, mesmo estando fora das áreas prioritárias, quem financia deveria abrir uma exceção ou se arrependeria para o resto de seus dias. Se estiver bem formulado, quem sabe o argumento funciona!
Regra 3 – Além da relevância científica e da adequação à política científica e tecnológica do país e às áreas prioritárias das agências de fomento, nunca se esqueça de um pré-requisito sempre considerado básico: em que medida o projeto vai contribuir para melhorar as condições de vida na sociedade; em caso de financiada, que tipo de impacto a proposta terá sobre as áreas diretamente relacionadas com o objeto de estudos do ponto de vista acadêmico, profissional, econômico, cultural e social. As conseqüências que uma pesquisa pode ter para uma instituição, região, estado, país ou conjunto de países são um fato de grande relevância na hora de aprovação ou não de um projeto.
Regra 4 – Nas chamadas Ciências Sociais Aplicadas em que se enquadra o Jornalismo atente para o fato de que um projeto teórico provoca um tipo de conseqüências muito diferentes de um projeto que esteja relacionado com o desenvolvimento de inovações em parceria com os diversos segmentos da sociedade: governo, empresas, movimentos sociais, organizações não governamentais, sociedades científicas e acadêmicas ou órgãos multilaterais como ONU, CEPAL, Banco Mundial, OEA, UNESCO, etc... Em cada um destes casos (teórico ou aplicado) o pesquisador deve indicar de forma clara as articulações que serão estabelecidas a partir do projeto e em que medida estas parcerias contribuirão para viabilizar a execução da proposta e aumentar o impacto dos resultados.
Regra 5 - Nunca se deve tratar um projeto como um fato isolado. A melhor forma de justificar um projeto é demonstrar como a proposta representa uma continuidade no trabalho desenvolvido pelo coordenador da pesquisa. Neste caso, chamar a atenção para a contribuição do pesquisador ao longo de sua carreira, da relevância do grupo que participa, das articulações nacionais e internacionais que possui, dos financiamentos obtidos nos últimos cinco anos, dos resultados alcançados em pesquisas anteriores do ponto de vista teórico-metodológico ou da aplicação de conhecimentos para o desenvolvimento de inovações, do número de profissionais formados e obras de referência publicadas. Se for um jovem pesquisador indicar local de formação, grupos de que participa, com quem estudou e prêmios recebidos.  Na próxima postagem trataremos das funções e das características dos objetivos no projeto de pesquisa. Aguarde.
  
Com um abraço,

Elias

sexta-feira, 18 de março de 2011

Passo a passo para delimitação do objeto

Na análise de projetos de pesquisa tenho constatado que um erro muito comum que compromete o conjunto da proposta é a imprecisão com que se apresenta, fundamenta e delimita o objeto de estudo. Antes de mais nada,  que fique claro que não vou propor nenhuma receita que deve ser usada de modo inflexível.  Meu propósito é apenas sugerir um roteiro que possa contribuir com quem começa no ramo ou enfrenta dificuldades para formular um projeto bem articulado neste quesito.
Em primeiro lugar, depois de definido o tema, fazer uma criteriosa revisão da bibliografia levantada na etapa anterior, repassando artigos publicados em revistas científicas, bancos de teses e dissertações, comunicações em anais de congressos e livros publicados catalogados em bibliotecas de centros de excelência na área da pesquisa. 
Caso o projeto seja de natureza teórica, pode-se passar de imediato a revisar a discussão do tema nos textos de referência, antes de entrar na delimitação do objeto de estudo e na definição do problema de pesquisa. Se for uma pesquisa que pressupõe a delimitação de um corpus empírico para análise ou  pretende o desenvolvimento de um produto, processo ou inovação a situação é bem mais complexa.
É muito comum que na falta de uma competência metodológica mais sistemática o jovem pesquisador pense que basta descrever um corpus empírico para definir e delimitar o objeto. Um equívoco porque a construção conceitual e a delimitação do objeto de estudos são dependentes de uma análise exploratória  prévia que possibilite identificar as características, regularidades ou rupturas na área da temática em questão. 
Sem este procedimento preliminar não se pode definir teoricamente o objeto, delimitar o corpus da pesquisa empírica e muito menos caracterizar um problema que seja relevante para se discutir e elaborar hipóteses para comprovar, refutar, complementar ou, o que é mais raro, propor uma área inédita de pesquisa. 
Quando o pesquisador renuncia ao estudo preliminar exploratório o que se tem é apenas uma justaposição, muitas vezes, desconexa de conceitos ou autores relacionados com a temática mais ampla, acompanhada da indicação de um corpus em estado bruto, pré-teorético. Este tipo de atitude impede qualquer discussão epistemológica que permita um movimento direcionado para  construção conceitual do objeto e a proposição de um problema digno de relevância científica.
Toda vez que for capaz de fazer o dever de casa, sem abrir mão de aproximar-se por etapas da bibliografia de referência e da realidade empírica, uma vez que o domínio abstrato do objeto requer um processo lento e gradativo, o cientista aumenta o grau de controle sobre os fenômenos estudados. Não chega a garantir que as metas serão totalmente atingidas, mas demonstra que estamos diante de um profissional em pleno exercício de suas funções. Na próxima postagem trataremos dos requisitos mínimos para elaborar uma boa justificativa para um projeto de pesquisa. 

Com um abraço,

Elias.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Dicas para definição do tema da pesquisa

Quem pesquisa sabe que definir o tema de um projeto não é uma tarefa fácil. Não existe uma regra única e universal a adotar. Cada pesquisador vai ao longo da carreira definindo a sua estratégia de ação. A partir da minha própria experiência vou repassar algumas orientações que podem auxiliar na decisão de quem pretende ganhar a vida como um cientista profissional.
Regra número 1: Antes de definir o tema defina uma área de atuação. Evite ficar mudando de área de projeto para projeto. Tenha clareza de que numa sociedade complexa como a nossa cada vez mais a competência do pesquisador passa pela continuidade do trabalho dentro de uma mesma área de conhecimento. Um bom pesquisador não muda de área a cada novo projeto. Muda somente de tema, tratando de aspectos até então pouco estudados ou desconhecidos. Se não tem uma determinada área de atuação o pesquisador terá muitas dificuldades para se inserir no mercado de trabalho. Não se deve pensar nunca no tema como uma decisão isolada, mas como um ato dentro de uma cadeia contínua que pode significar o primeiro passo para a consolidação do pesquisador como um especialista em determinado campo de conhecimento.
Regra número 2: Somente trabalhe com uma temática que seja de seu agrado. Tenha consciência que a execução do projeto leva em média de um a três anos. Se existe a possibilidade de escolha do tema não faz o menor sentido fazer do seu dia a dia um inferno por ter que pesquisar um assunto que seja pouco palatável. Escolha o tema da pesquisa com a mesma diligência de que escolhe um parceiro ou parceira para o casamento.  Se não houver afinidade eletiva, não pense duas vezes em mudar de tema até encontrar a sua alma gêmea. Tenha consciência de que durante a execução de uma pesquisa muitos são os momentos de crise do pesquisador e que quando existe desconforto com o tema a situação somente tende a piorar, senão a inviabilizar a conclusão do trabalho com sucesso.
Regra número 3: Nunca se deve propor um tema de pesquisa sem antes fazer uma criteriosa revisão da bibliografia de referência na área do projeto. Não esqueça que cada pesquisa tem como objetivo comprovar, refutar, complementar ou desvelar aspectos novos da realidade. Se o pesquisador desconhece o estado da arte em sua área de atuação dificilmente vai ter condições de identificar objetos ou hipóteses de pesquisa originais e de grande relevância. Repasse os anais dos principais congressos científicos, as revistas especializadas, os bancos de dados com as dissertações e teses e os livros publicados disponíveis nas bibliotecas dos centros de excelência em seu campo de conhecimento.
Regra número 4: Evite sempre a busca do caminho mais fácil porque todo conhecimento relevante pressupõe muita disciplina, esforço coletivo e trabalho metódico, muitas vezes, de toda uma vida. Se opta por um tema muito estudado existe a vantagem de que se pode partir de um conhecimento solidamente acumulado sobre o assunto. Em contrapartida, existe muito mais dificuldade de se chegar a uma contribuição original, sem contar o tempo gasto em revisar a bibliografia de referência. Caso tenha preferência por um tema pouco frequentado a possibilidade de um estudo mais original aumenta na mesma proporção que a quantidade de trabalho individual do pesquisador para construir, definir e conceituar o próprio objeto. Como se verifica nenhuma opção é fácil e, ao final das contas, o que faz a diferença é o talento, o esforço e a disciplina do pesquisador.
Regra número 5: Em termos científicos puros qualquer tema pode ser relevante. Do ponto de vista da política científica, da realidade social, econômica, política e cultural alguns temas são mais importantes que outros. Cabe ao pesquisador ter a sensibilidade para saber conciliar a escolha de uma tema que seja de seu agrado pessoal, possibilite a sua inserção no seu campo científico de atuação, contribua de forma original para os estudos de sua área e que esteja articulado com a agenda da política científica e tecnológica de seu local de trabalho e as demandas da sociedade de seu tempo. Em hipótese alguma, trata-se de uma tarefa simples. Como vimos, uma vida bem sucedida como pesquisador depende do talento, da disciplina, da capacidade coletiva de trabalho e, acima de tudo, que se tenha a sorte de eleger o tema certo, na hora certa e que conte com o apoio de quem libera os recursos indispensáveis para a execução do projeto. Se vale como consolo para quem está começando nunca se sabe a priori se estamos mesmo no caminho certo!

Com um abraço,

Elias.

terça-feira, 15 de março de 2011

Diferença entre metodologia e procedimentos


Em um projeto bem feito o pesquisador necessita estabelecer uma diferença clara entre a definição conceitual do referencial teórico que fundamenta a matriz metodológica que serve de parâmetro para a condução dos estudos e o conjunto de procedimentos utilizados para operacionalizar a execução das diversas etapas da pesquisa. É muito comum se constatar que falta aos projetos a parte de fundamentação porque, como vimos na postagem sobre os riscos de reificação das metodologias, em vez de construir um referencial teórico para o método que vai adotar o pesquisador se satisfaz com a simples enumeração das técnicas que serão empregadas nas diversas etapas do trabalho.
Trata-se de um erro elementar que deve ser evitado a todo custo. Uma das tarefas mais nobres de um projeto é justo a fundamentação e a problematização da matriz metodológica. Se não se concebe a metodologia como um modelo estático e atemporal a que o objeto está obrigado a se encaixar independentemente de suas particularidades e dos objetivos da investigação, cabe ao pesquisador, a partir da crítica da matriz existente, desenvolver uma metodologia apropriada e que possa dar conta das demandas propostas.
Tomada como uma etapa dinâmica que pressupõe a contínua problematização e atualização do referencial teórico adotado, a metodologia representa a possibilidade de uma contribuição original do pesquisador para sua área de estudos. Entendida nestes termos, a metodologia constitui-se ao lado da delimitação do objeto, da definição do problema e da revisão da literatura como as partes essenciais de um bom projeto. Feito o esclarecimento sobre os motivos para que a metodologia seja vista como um convite à discussão, vale um último comentário sobre os procedimentos.
Vulgarmente tratados como as técnicas arroladas para a execução da pesquisa, os procedimentos, muitas vezes, são confundidos com a própria metodologia. Nestes casos, existe a renúncia plena a qualquer problematização da matriz metodológica que ao que tudo indica seja desconhecida pelo pesquisador que se revela alheio a qualquer discussão de natureza epistemológica. Se quisermos elaborar um bom projeto tampouco podemos caracterizar os procedimentos como estáticos e naturalizados, uma vez que a opção por uma ou outra técnica ou mesmo a invenção de determinados procedimentos são decisões tomadas em decorrência da matriz metodológica construída, dos objetivos propostos e das particularidades do objeto.   

Com um abraço,

Elias.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Os riscos da reificação das metodologias


Um dos erros mais comuns cometidos por quem elabora um projeto de pesquisa consiste em pensar que se pode definir o objeto e a metodologia sem maiores esforços. Ledo engano de quem pouco conhece das filigranas do ramo e, em parte, reforçado por uma tradição de manuais que estão mais preocupados em descrever modelos metodológicos estáticos que problematizar e discutir metodologias. Não vou negar que na dura tarefa de delimitar um objeto de estudo a revisão da literatura de referência e a consulta de manuais de metodologia são passos importantes. Mas tampouco posso esquecer de alertar de que são medidas insuficientes.
O equívoco está em julgar que a pesquisa cientifica depende da simples aplicação de métodos pré-estabelecidos em objetos previamente existentes como dados de uma realidade atemporal. Nada pode ser menos indicado para o avanço do conhecimento do que este tipo de mentalidade que desconhece que entre os desafios do pesquisador está o de inventar criativamente seus objetos e as metodologias apropriadas para atingir os objetivos traçados como metas.
Na construção pelo pesquisador de seus objetos e metodologias existe uma relação entre o que se recupera da tradição conceitual e metodológica, que recolhe como parêmetro modelos aplicados a objetos similares em outros lugares ou épocas, e o que se conforma como contribuição única de cada novo projeto. Em vez de ponto de partida, objeto e metodologia são pontos de chegada na etapa de produção do projeto. A definição do objeto pressupõe a sua contrução teórica. A simples descrição de aspectos particulares ou a indicação de um corpus de análise são insuficientes para delimitar um objeto em termos conceituais.
Sem a fundamentação epistemológica e a delimitação teórica e/ou empírica do objeto não se pode avançar para a discussão da metodologia que será adotada. A construção do referencial teórico da metodologia indica o grau de articulação que existe entre os saberes acumulados tomados como parâmetros de orientação para quem pesquisa e as lacunas inevitáveis porque se trata de um objeto em parte sempre novo e que requer do pesquisador a crítica, a criação e aperfeiçoamento de métodos e procedimentos de pesquisa. 

Com um abraço,

Elias

domingo, 13 de março de 2011

Por uma simples questão de perspectiva

Desde a época em que comecei como jovem pesquisador bolsista do CNPq  em meados dos anos 80 sempre ouço a mesma pergunta: por que a necessidade de metodologias aplicadas ao Jornalismo? A resposta não é simples e tampouco tenho a pretensão de acabar com a discussão aqui. Gostaria apenas, em primeiro lugar, de defender que o desenvolvimento de metodologias próprias é essencial para a consolidação de qualquer área de conhecimento como disciplina científica.
Permitam-me avançar com meus argumentos. Parto do pressuposto que neste espaço definimos o Jornalismo como uma disciplina científica que está interessada em definir, compreender e contribuir para o desenvolvimento da prática profissional do Jornalismo. Se aceitamos este pressuposto, como ocorre com toda disciplina científica, não deveria restar a menor dúvida de que devemos delimitar nosso objeto de estudo e estabelecer metodologias apropriadas para atingir nossos objetivos. Como a totalidade do mundo é inapreensível ao longo do tempo a prática científica adotou a divisão social do trabalho.
A criação de novas disciplinas científicas atende a demandas históricas e sociais. Nesta lógica a afirmação de uma disciplina pressupõe uma luta política para ocupação de espaços antes destinados a outras disciplinas. Quanto mais complexa a sociedade mais convivemos com uma inevitável especialização dos saberes. Um movimento contraditório porque quanto mais especializado o conhecimento mais existe o risco de perda da dimensão da totalidade que em última instância possibilita a compreensão das particularidades estudadas em cada ramo da ciência.
Desde a Modernidade e, nas sociedades atuais, o Jornalismo desempenha uma função crucial na constituição de uma esfera pública e a conquista de espaços pelos profissionais deste campo primeiro no mundo acadêmico no final do século XIX e, partir de meados do século XX na constelação das ciências, decorre antes de mais nada de que a compreensão dos enigmas de nosso tempo passa em parte pela compreensão do que é o Jornalismo, em que implica sua prática, as relações das organizações jornalísticas com as outras instituições, etc... Como objeto de estudos, como ocorre com todos os outros objetos, o Jornalismo enquanto prática profissional não é e nem deve ser monopólio dos pesquisadores em Jornalismo.
Qualquer pesquisador pode direcionar seus interesses para o Jornalismo o que, no final das contas, vai contribuir para complexificar o conhecimento sobre esta instituição social. A diferença consiste em que nenhum dos pesquisadores das outras disciplinas científicas está capacitado cognitiva e metodologicamente para formular perguntas e construir ferramentas apropriadas para descobrir as respostas sobre o que é o Jornalismo enquanto uma prática profissional. O que diferencia uma disciplina científica da outra é a perspectiva com que se debruça na árdua tarefa de delimitar o próprio objeto e elaborar suas metodologias de trabalho.
Todas as perspectivas científicas são válidas, mas o que necessita ficar claro é que nenhuma disciplina pode substituir a outra porque cada uma delas, ao partir de determinados presupostos, objetivos e adotar métodos específicos,  possibilita uma visão única sobre o Jornalismo enquanto uma instituição social. O debate continua. Na próxima postagem trataremos dos riscos de reificação do objeto e da própria metodologia.

Com um abraço,

Elias.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Livros de referência sobre metodologias

Parece óbvio, mas nem sempre é o caso. Antes de mais nada para desenvolver um bom projeto se deveria consultar a bibliografia de referência sobre metodologias de pesquisa. Na construção do objeto e na elaboração do projeto a definição da metodologia é um passo imprescindível e nada mais razoável que consultar o conhecimento acumulado ao longo de gerações. 
As boas obras de referência sobre metodologias de pesquisa em jornalismo ainda são raras, embora nos últimos anos registramos o lançamento de alguns novos livros, inclusive em português (confira lista sumária na coluna lateral direita do blogue). Desde meados do século passado são predominantes as obras de referência sobre metodologias de pesquisa em comunicação, uma área acadêmica muito mais ampla e multifacetada.  Ao longo dos próximos meses iremos comentar alguns destes livros que consideramos como os mais representativos na literatura em português, espanhol, inglês, francês e italiano.

Com um abraço,

Elias.

quinta-feira, 10 de março de 2011

O profissional, o professor e pesquisador

A verdade precisa ser dita: nem todos estão preparados para as práticas como jornalista profissional, professor de jornalismo e pesquisador em jornalismo. Em primeiro lugar, porque as três atividades ainda que relacionadas têm objetivos e exigem competências e conhecimentos muito diferentes. Para a prática do jornalismo basta o conhecimento de determinados conceitos, técnicas e da deontologia profissional. Não se exige conhecimento de literatura de referência em um campo de conhecimento e tampouco de metodologias de ensino e pesquisa. O trabalho como jornalista profissional pressupõe o domínio dos conceitos, mas a prática jornalística não produz conceitos científicos. 
Em contrapartida, não se deveria começar a ensinar sem o conhecimento prévio de metodologias de ensino e uma sólida formação acadêmica, consolidada através de cursos de mestrado e doutorado. No caso da pesquisa as exigências são ainda maiores porque ao pesquisador não basta conhecer a literatura de referência e reproduzir o conhecimento existente, uma vez que está entre suas atribuições o desenvolvimento de novas metodologias, a construção de objetos até então desconhecidos ou pouco explorados e a elaboração de conceitos capazes de definir e descrever a 'realidade'. Raras vezes os três tipos de competências são encontradas em igual proporção nos mesmos profissionais. 
Não há nada de errado nisto. Pode-se ser feliz sendo apenas jornalista, professor ou pesquisador. O que se chama a atenção aqui é que nem sempre um ótimo jornalista será um excelente professor ou pesquisador. E vice-versa. Simplesmente porque estamos tratando de atividades profissionais completamente distintas. Quem tem experiência como membro de banca de concurso ou como professor de pós-graduação sabe que mesmo para profissionais com longos anos no mercado nada pode ser mais assutador do conseguir completar o tempo de uma aula de 50 minutos e que uma boa parte dos mestrandos conclui suas dissertações sem elaborar um mísero conceito, apenas revisando a bibliografia de referência.

Com um abraço,

Elias.

quarta-feira, 9 de março de 2011

A partir de hoje blogue cria conta no Twitter

A partir de hoje teremos uma conta no twitter @metpesqjor para melhor divulgar as informações que publicaremos neste blogue. De nossa experiência como professor de Metodologias de Pesquisa desde 1993 na FACOM/UFBA e mais recentemente no DEJOR/UFSC e na condição de consultor para o CNPq, CAPES, GT de Jornalismo da COMPÓS, INTERCOM e FNPJ percebemos que existe uma necessidade urgente de debate sobre os pressupostos metodológicos aplicados aos projetos desenvolvidos na área de Jornalismo. Daqui para frente iremos compartilhar com os colegas as deficiências, as limitações e os avanços que verificamos na literatura de referência, nos projetos que avaliamos e nas discussões que participamos em congressos nacionais e no exterior.  Contamos com o apoio de todos para difundir nossa conta.

Com um abraço,

Elias.

Uma leitura recomendável de Adorno

Quem está começando a desenvolver projetos de pesquisa deveria ler com atenção Introdução à Sociologia, de Theodor Adorno,  um conjunto de 17 aulas ministradas em plena crise de 1968 e publicado em português pela UNESP, em 2008.  Entre as muitas sábias lições, Adorno recomenda que não se pode reificar a metodologia e que tampouco se deveria subjugar o objeto/assunto ao método. Bem ao contrário, da relação dialética entre método e assunto/objeto é que se desenvolve a metodologia. Vale a leitura!

Com um abraço,

Elias.

terça-feira, 8 de março de 2011

Retomada do blogue neste semestre

Depois de mais de dois anos inativo, em paralelo às atividades que desenvolvo relacionadas ao ciberjornalismo no Laboratório de Pesquisas Aplicadas em Jornalismo Digital (LAPJOR), neste semestre retomarei as postagens no blogue. Como começo um novo projeto de pesquisasobre Metodologias de Pesquisa em Jornalismo e ministarei a disciplina Técnicas de Projetos no Curso de Jornalismo da UFSC vou aproveitar para manter as leituras em dia. Espero que possamos manter uma boa discussão e uma interlocuação ativa daqui para frente.

Com um abraço,

Elias.