quarta-feira, 16 de março de 2011

Dicas para definição do tema da pesquisa

Quem pesquisa sabe que definir o tema de um projeto não é uma tarefa fácil. Não existe uma regra única e universal a adotar. Cada pesquisador vai ao longo da carreira definindo a sua estratégia de ação. A partir da minha própria experiência vou repassar algumas orientações que podem auxiliar na decisão de quem pretende ganhar a vida como um cientista profissional.
Regra número 1: Antes de definir o tema defina uma área de atuação. Evite ficar mudando de área de projeto para projeto. Tenha clareza de que numa sociedade complexa como a nossa cada vez mais a competência do pesquisador passa pela continuidade do trabalho dentro de uma mesma área de conhecimento. Um bom pesquisador não muda de área a cada novo projeto. Muda somente de tema, tratando de aspectos até então pouco estudados ou desconhecidos. Se não tem uma determinada área de atuação o pesquisador terá muitas dificuldades para se inserir no mercado de trabalho. Não se deve pensar nunca no tema como uma decisão isolada, mas como um ato dentro de uma cadeia contínua que pode significar o primeiro passo para a consolidação do pesquisador como um especialista em determinado campo de conhecimento.
Regra número 2: Somente trabalhe com uma temática que seja de seu agrado. Tenha consciência que a execução do projeto leva em média de um a três anos. Se existe a possibilidade de escolha do tema não faz o menor sentido fazer do seu dia a dia um inferno por ter que pesquisar um assunto que seja pouco palatável. Escolha o tema da pesquisa com a mesma diligência de que escolhe um parceiro ou parceira para o casamento.  Se não houver afinidade eletiva, não pense duas vezes em mudar de tema até encontrar a sua alma gêmea. Tenha consciência de que durante a execução de uma pesquisa muitos são os momentos de crise do pesquisador e que quando existe desconforto com o tema a situação somente tende a piorar, senão a inviabilizar a conclusão do trabalho com sucesso.
Regra número 3: Nunca se deve propor um tema de pesquisa sem antes fazer uma criteriosa revisão da bibliografia de referência na área do projeto. Não esqueça que cada pesquisa tem como objetivo comprovar, refutar, complementar ou desvelar aspectos novos da realidade. Se o pesquisador desconhece o estado da arte em sua área de atuação dificilmente vai ter condições de identificar objetos ou hipóteses de pesquisa originais e de grande relevância. Repasse os anais dos principais congressos científicos, as revistas especializadas, os bancos de dados com as dissertações e teses e os livros publicados disponíveis nas bibliotecas dos centros de excelência em seu campo de conhecimento.
Regra número 4: Evite sempre a busca do caminho mais fácil porque todo conhecimento relevante pressupõe muita disciplina, esforço coletivo e trabalho metódico, muitas vezes, de toda uma vida. Se opta por um tema muito estudado existe a vantagem de que se pode partir de um conhecimento solidamente acumulado sobre o assunto. Em contrapartida, existe muito mais dificuldade de se chegar a uma contribuição original, sem contar o tempo gasto em revisar a bibliografia de referência. Caso tenha preferência por um tema pouco frequentado a possibilidade de um estudo mais original aumenta na mesma proporção que a quantidade de trabalho individual do pesquisador para construir, definir e conceituar o próprio objeto. Como se verifica nenhuma opção é fácil e, ao final das contas, o que faz a diferença é o talento, o esforço e a disciplina do pesquisador.
Regra número 5: Em termos científicos puros qualquer tema pode ser relevante. Do ponto de vista da política científica, da realidade social, econômica, política e cultural alguns temas são mais importantes que outros. Cabe ao pesquisador ter a sensibilidade para saber conciliar a escolha de uma tema que seja de seu agrado pessoal, possibilite a sua inserção no seu campo científico de atuação, contribua de forma original para os estudos de sua área e que esteja articulado com a agenda da política científica e tecnológica de seu local de trabalho e as demandas da sociedade de seu tempo. Em hipótese alguma, trata-se de uma tarefa simples. Como vimos, uma vida bem sucedida como pesquisador depende do talento, da disciplina, da capacidade coletiva de trabalho e, acima de tudo, que se tenha a sorte de eleger o tema certo, na hora certa e que conte com o apoio de quem libera os recursos indispensáveis para a execução do projeto. Se vale como consolo para quem está começando nunca se sabe a priori se estamos mesmo no caminho certo!

Com um abraço,

Elias.

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