sábado, 19 de março de 2011

Nem todo projeto de pesquisa se justifica

Não tenha a menor dúvida: nem todo projeto de pesquisa consegue apresentar justificativas para se sustentar e garantir a aprovação dos pareceristas e agências de fomento. Escolher um bom tema, que agrade ao pesquisador e atenda às demandas científicas e sociais, empreender uma revisão criteriosa da bibliografia de referência, definir conceitualmente e delimitar o objeto de estudo são passos importantes, mas insuficientes para elaborar um bom projeto. Sem uma justificativa que convença aos avaliadores dificilmente um projeto consegue aprovação. Nesta postagem vou indicar alguns aspectos que considero essenciais para defender uma proposta de pesquisa submetida à avaliação pelos pares. Todo bom projeto precisa passar com méritos por 5 regras básicas:
Regra 1 – Necessita apresentar uma proposta que seja relevante do ponto de vista científico, que contribua para comprovar, refutar, complementar lacunas ou, o que é mais raro, desbravar novas fronteiras no conhecimento. Como será julgado por pares especializados na questão que fique bem claro que superar a primeira barreira não é tarefa fácil. Se cumpriu com o dever de casa nas etapas de escolha de área para atuação, na definição do tema e na delimitação do objeto, meio caminho está andado. Tudo vai depender então da competência do pesquisador para utilizar estes aspectos como argumentos a favor na árdua tarefa de convencer seus avaliadores.
Regra 2 - Deve propor um projeto compatível com a política científica e tecnológica do país e das instituições financiadoras. Pouco recomendável é uma proposta que até pode ser muito relevante do ponto de vista do pesquisador ou mesmo de uma determinada organização se entra em contradição ou pior ainda está fora das prioridades para o fomento.  Jamais redigir uma justificativa sem consultar as normas do edital das agências para verificar em que medida o projeto pode ou não concorrer com chances de aprovação. Em caso de que a aderência seja somente parcial, atentar para o cuidado de apresentar as devidas alegações para que, mesmo estando fora das áreas prioritárias, quem financia deveria abrir uma exceção ou se arrependeria para o resto de seus dias. Se estiver bem formulado, quem sabe o argumento funciona!
Regra 3 – Além da relevância científica e da adequação à política científica e tecnológica do país e às áreas prioritárias das agências de fomento, nunca se esqueça de um pré-requisito sempre considerado básico: em que medida o projeto vai contribuir para melhorar as condições de vida na sociedade; em caso de financiada, que tipo de impacto a proposta terá sobre as áreas diretamente relacionadas com o objeto de estudos do ponto de vista acadêmico, profissional, econômico, cultural e social. As conseqüências que uma pesquisa pode ter para uma instituição, região, estado, país ou conjunto de países são um fato de grande relevância na hora de aprovação ou não de um projeto.
Regra 4 – Nas chamadas Ciências Sociais Aplicadas em que se enquadra o Jornalismo atente para o fato de que um projeto teórico provoca um tipo de conseqüências muito diferentes de um projeto que esteja relacionado com o desenvolvimento de inovações em parceria com os diversos segmentos da sociedade: governo, empresas, movimentos sociais, organizações não governamentais, sociedades científicas e acadêmicas ou órgãos multilaterais como ONU, CEPAL, Banco Mundial, OEA, UNESCO, etc... Em cada um destes casos (teórico ou aplicado) o pesquisador deve indicar de forma clara as articulações que serão estabelecidas a partir do projeto e em que medida estas parcerias contribuirão para viabilizar a execução da proposta e aumentar o impacto dos resultados.
Regra 5 - Nunca se deve tratar um projeto como um fato isolado. A melhor forma de justificar um projeto é demonstrar como a proposta representa uma continuidade no trabalho desenvolvido pelo coordenador da pesquisa. Neste caso, chamar a atenção para a contribuição do pesquisador ao longo de sua carreira, da relevância do grupo que participa, das articulações nacionais e internacionais que possui, dos financiamentos obtidos nos últimos cinco anos, dos resultados alcançados em pesquisas anteriores do ponto de vista teórico-metodológico ou da aplicação de conhecimentos para o desenvolvimento de inovações, do número de profissionais formados e obras de referência publicadas. Se for um jovem pesquisador indicar local de formação, grupos de que participa, com quem estudou e prêmios recebidos.  Na próxima postagem trataremos das funções e das características dos objetivos no projeto de pesquisa. Aguarde.
  
Com um abraço,

Elias

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