quinta-feira, 24 de março de 2011

Hipótese funciona como guia de orientação

As hipóteses são essenciais para orientar os rumos e o grau de controle de qualquer pesquisa. Guardadas as particularidades, um pesquisador que desenvolve um projeto sem hipóteses não é muito diferente de um marinheiro que navega sem instrumentos de orientação. Ambos estão condenados ao acaso das circunstâncias.
Como materializa uma proposta de trabalho que pressupõe racionalidade, um bom projeto de jeito nenhum deveria abrir mão de apresentar ao menos uma hipótese, que testada ou discutida contribua para o aumento do conhecimento acumulado. No modelo padrão sugerido pelos manuais de pesquisa, as hipóteses têm a forma de uma pergunta ou de uma afirmação em que se sintetiza o conhecimento provisório existente sobre um determinado objeto.
Ocorre que, mais importante que seguir a receita dos manuais, é compreender a função das hipóteses em um projeto e perceber que as perguntas ou as afirmações provisórias são somente duas possibilidades entre outras de sistematizar o conhecimento alcançado e de estruturar de modo lógico o roteiro que servirá de guia para o pesquisador. Nada impede que a hipótese seja apresentada como um texto bem fundamentado de uma página ou duas em vez de uma simples pergunta ou afirmação de uma a duas linhas.
Em trabalhos de graduação ou mestrado é mesmo mais recomendável que no lugar de várias hipóteses sintéticas, o que dificultaria a comprovação ou discussão mais aprofundada em uma monografia com em média três capítulos, seja elaborada apenas uma hipótese bem construída, com base em uma competente revisão da bibliografia de referência e em um bom estudo preliminar exploratório.
Desconfie de quem recomenda que as hipóteses são dispensáveis em caso de trabalhos de conclusão de graduação ou em dissertações de mestrado, aparecendo como uma exigência protocolar apenas em teses de doutorado. Em termos científicos o que diferencia uma pesquisa de um aluno de graduação de um de doutorado não é nem o rigor nem o procedimento formal como a necessidade ou não de incluir hipóteses, mas sim o grau de complexidade do problema, das matrizes teóricas e metodológicas, das próprias hipóteses testadas ou discutidas e, óbvio, dos resultados obtidos.
Em vez de estimular uma perversa divisão social do trabalho acadêmico em que a formulação de hipóteses cabe somente a quem está no topo da pirâmide, deveríamos compreender que sem uma formação de base integral nunca se conseguirá constituir uma verdadeira comunidade científica. Nos centros de pesquisa preocupados com a qualificação contínua dos seus profissionais e a democratização do conhecimento, os membros são diferenciados não pelo acesso aos procedimentos ou aos objetos de estudo, mas pelo tipo de relação que cada um mantém entre si (orientador/orientando; sênior/em formação) e pelas funções que desempenha nestas instituições (pesquisador-chefe/pesquisador/assistente de pesquisa).

Com um abraço,

Elias.

Um comentário:

vieirajr disse...

Boa análise da função da hipótese na produção do conhecimento científico. O que discordo é a definição da hipótese como pergunta. Se é uma pergunta, é a pergunta da pesquisa. A hipótese responde provisoriamente a pergunta formulada. A hipótese é uma suposição, uma probabilidade de acontecer.
abraços
vieirajr