sexta-feira, 18 de março de 2011

Passo a passo para delimitação do objeto

Na análise de projetos de pesquisa tenho constatado que um erro muito comum que compromete o conjunto da proposta é a imprecisão com que se apresenta, fundamenta e delimita o objeto de estudo. Antes de mais nada,  que fique claro que não vou propor nenhuma receita que deve ser usada de modo inflexível.  Meu propósito é apenas sugerir um roteiro que possa contribuir com quem começa no ramo ou enfrenta dificuldades para formular um projeto bem articulado neste quesito.
Em primeiro lugar, depois de definido o tema, fazer uma criteriosa revisão da bibliografia levantada na etapa anterior, repassando artigos publicados em revistas científicas, bancos de teses e dissertações, comunicações em anais de congressos e livros publicados catalogados em bibliotecas de centros de excelência na área da pesquisa. 
Caso o projeto seja de natureza teórica, pode-se passar de imediato a revisar a discussão do tema nos textos de referência, antes de entrar na delimitação do objeto de estudo e na definição do problema de pesquisa. Se for uma pesquisa que pressupõe a delimitação de um corpus empírico para análise ou  pretende o desenvolvimento de um produto, processo ou inovação a situação é bem mais complexa.
É muito comum que na falta de uma competência metodológica mais sistemática o jovem pesquisador pense que basta descrever um corpus empírico para definir e delimitar o objeto. Um equívoco porque a construção conceitual e a delimitação do objeto de estudos são dependentes de uma análise exploratória  prévia que possibilite identificar as características, regularidades ou rupturas na área da temática em questão. 
Sem este procedimento preliminar não se pode definir teoricamente o objeto, delimitar o corpus da pesquisa empírica e muito menos caracterizar um problema que seja relevante para se discutir e elaborar hipóteses para comprovar, refutar, complementar ou, o que é mais raro, propor uma área inédita de pesquisa. 
Quando o pesquisador renuncia ao estudo preliminar exploratório o que se tem é apenas uma justaposição, muitas vezes, desconexa de conceitos ou autores relacionados com a temática mais ampla, acompanhada da indicação de um corpus em estado bruto, pré-teorético. Este tipo de atitude impede qualquer discussão epistemológica que permita um movimento direcionado para  construção conceitual do objeto e a proposição de um problema digno de relevância científica.
Toda vez que for capaz de fazer o dever de casa, sem abrir mão de aproximar-se por etapas da bibliografia de referência e da realidade empírica, uma vez que o domínio abstrato do objeto requer um processo lento e gradativo, o cientista aumenta o grau de controle sobre os fenômenos estudados. Não chega a garantir que as metas serão totalmente atingidas, mas demonstra que estamos diante de um profissional em pleno exercício de suas funções. Na próxima postagem trataremos dos requisitos mínimos para elaborar uma boa justificativa para um projeto de pesquisa. 

Com um abraço,

Elias.

3 comentários:

Unknown disse...

Caro Elias,
Tenho praticado esse exercício em busca do meu recorte acadêmico. Li várias dissertações, alguns livros e até comecei a fazer uma pesquisa com os blogs de mães em busca de um caminho. Sinto, no entanto, que falta um encaixe do outro lado. Não consigo discernir as diferenças das linhas de pesquisa que são apresentadas nas universidades, alguma dica?

Anônimo disse...

Excelentes textos. Muito bem escritos e esclarecedores, principalmente nos pontos em que as dúvidas dificilmente são elucidadas através da literatura científica, onde é tudo muito engessado.

Estou em fase de conclusão de curso e suas postagens foram bastante úteis, principalmente para me trazer uma confiança maior sobre o que estou fazendo.

Não digo somente deste texto que comentei, mas sim de todos os que li. Apenas comentei no último da página.

Muito bom.

Unknown disse...

ola pessoal
minha contribuição nesse debate é a seguinte:
delimitação do tema é a coisa, o objeto de estudo. Tem que definir isso de qualquer modo bibliografico
depois, olhando para o objeto, notamos problemas, defeitos, lacunas, etc, vem a problematização e logo a necessidade de solução coerente, por isso temos a hipótese como provável solução do problema